Ao longo dos meus 45 anos de trabalho, em grandes empresas multinacionais, eu tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas de diferentes países. Muitas delas eu tenho amizade até hoje, graças a facilidade de contato pelas redes sociais.
Eu tive o prazer de conhecer a Fariddy, nascida no Peru, nossa entrevistada de hoje, que viveu por anos no Brasil.
Ela deixou o Brasil pelo medo de viver num pais sem segurança e escolheu viver, justamente, no segundo país mais seguro do mundo, de acordo com o “Global Peace Index 2018 ” … a bela Nova Zelândia.
Ela foi a minha assistente na NCR Brasil, uma grande empresa americana de TI, e sempre foi muito competente. Percebemos, na época, que ela tinha muitas habilidades e que teria uma ascensão na carreira profissional e isso efetivamente se concretizou. Inclusive escreveu um belo livro com o título “A full and complete life ” ( uma vida repleta e plena )
Ela vive um belo momento da sua vida que vai nos compartilhar neste texto abaixo.
1 – Quando tomou a decisão de viver na Nova Zelândia ( NZ ) e por quê?
Foi a 15 anos.. Apesar de amar o Brasil com todo o meu coração, de ter trabalhado em boas empresas, de ter um bom salário, de amar o lugar onde eu morava, da facilidade de estudo, etc. não conseguia mais viver com o temor da violência. Na avenida Santo Amaro havia crianças assaltando os carros toda vez que eu ia trabalhar. Não podia parar o carro nos semáforos, pois ficava assustada quando alguém chegava perto.
Eu havia visitado à Nova Zelândia, no ano de 2000, por duas semanas de férias, desta forma, pensei que seria uma boa idéia viver por um tempo, mas nunca pensei que ficaria por tantos anos. Todo ano, pensava em voltar para o Brasil, mas as noticias de amigos que foram assaltados me deixava sem vontade de voltar, especialmente agora que tenho um filho aqui.
2 – O que você sentiu quando, realmente, tomou a decisão de sair do Brasil ?
Eu sempre viajei e nunca senti medo de ir a outros lugares. Quando saí do Peru, para morar no Brasil, meu coração pulava de alegria. O Brasil foi o país que eu queria viver pelo resto da minha vida. Eu amava a cultura, pessoas, comida, música, quase tudo.
Quando saí do Brasil, para morar na Nova Zelândia, tive um problema no coração, não pelo medo de que algo acontecesse, mas porque havia deixado algo que amava. Mas a minha decisão foi que eu não queria viver todos os dias com medo de ser assaltada.
3 – A sua família aprovou o novo desafio?
Eu sempre tomei minhas próprias decisões e quase nunca ouço as opiniões das pessoas. Desta vez foi quase o mesmo. Eu queria viajar, comprei a passagem e sai. A frase de uma música que está sempre comigo e me motiva a sair de um país ou fazer algo diferente é a frase da música “como uma onda ” de Lulu Santos, “Há tanta vida lá fora” – Esta frase é como a minha vitamina para eu me mover.
4 – Qual a cidade que você mora? Você já tinha emprego garantido na nova cidade? Se negativo, se preparou para este novo desafio de procurar um novo emprego.
Eu moro em Hawke’s Bay em um lugar chamado Havelock North – muito pequeno. Eu também moro em uma fazenda que fica a quase 45km de Havelock. Os dois lugares estão perto de Napier, que é a maior “cidade” de Hawke’s Bay. Napier tem aeroporto, cinema e mais lojas.
https://www.newzealand.com/au/hawkes-bay/
Quando decidi viajar, fiquei em dúvida entre fazer o Caminho de Santiago de Compostela ou vir para a Nova Zelândia. Eu queria fazer as duas coisas, mas minha decisão foi mais fácil quando entrei em contato com o diretora de uma escola de inglês em Napier, que conheci quando vim pela primeira vez para a NZ de férias, e lhe disse que queria voltar para a Nova Zelândia.
Ela imediatamente me ofereceu um emprego temporário para ensinar inglês a uma brasileira que ia estudar em Napier durante seis meses e não sabia nada de inglês. Eu também fiz toda a tradução do material de marketing da escola. O alojamento e a alimentação foram incluídos na troca de emprego.
5 – Como foi o processo de desligamento do Brasil? ( toda a burocracia para sair e ir para um novo país).
Eu não pretendia ficar por muito tempo, então não organizei nenhuma papelada. Deixei tudo como estava no Brasil, conta bancária, carro, roupas, etc.
O mesmo aconteceu quando sai do Peru para o Brasil, não fiz nenhuma papelada.
6 – Como foi o processo de chegada na NZ e toda a preparação para acertar as coisas, tais como, como casa, carro, documentação, internet, etc etc? É verdade que demora quase 1 ano para acertar tudo.?
Depois do período de trabalho, comecei a viajar, fiquei em hostels e motéis ate que comecei a trabalhar em marketing para uma empresa de distribuição de comida orgânica. Não tinha carro, andei a pé por um mês. Depois consegui um carro. O governo orientou que para eu ficar, precisava providenciar uma série de documentos, mas depois mudaram as regras e felizmente, depois de um tempo, consegui a permissão para viver aqui. Não me preocupava com a internet nesses dias. Não tinha celular tampouco.
7 – Quais foram os maiores desafios nos primeiros meses?
O frio … nunca gostei do frio. Também o idioma pois os Neozelandeses falam um inglês muito diferente – eu achava que estavam falando uma mistura de Chinês ou Japonês, mas era Inglês. Achei muito diferente os costumes das pessoas aqui.
8 – Qual a estimativa de custos mensais para 1 casal de aposentados para viver na NZ, alugando um apartamento de classe média com 2 dormitórios?
Aqui onde eu moro não há prédios, seria uma casa. Neste lugar onde moro, é especialmente bom para aposentados – há muitas casas para aposentados. São vilas com casas muito boas. O pessoal mora ali e passeia no ‘pueblo’ – As pessoas jovens, geralmente, vão embora daqui. Elas preferem Auckland, Wellington o Christchurch na ilha do sul.
Eu acho que para viver confortavelmente, você precisa de no mínimo de 40,000 dólares americanos por ano ou um pouco mais que isso. NZ é muito caro comparado com outros países.
9 – O que sente falta do Brasil ?
O idioma, a música, a cultura, os programas de tv, o ‘rosto’ dos brasileiros, o cheiro dos lugares e das pessoas, os lugares de fazer manicure, a comida!!! A limpeza, as roupas das pessoas, o sorriso dos brasileiros. O jeito do Brasil. O contato com as pessoas, os costumes – sair e ficar com os amigos, celebrações, futebol (aqui não se interessam pelo futebol). As conversas com os amigos. Quase tudo! Mas não a violência!
10 – Qual a aceitação dos NZs dos expatriados brasileiros?
Eu acho que é muito boa, todas as pessoas são amáveis e gentis. Não há discriminação, mas tenho ouvido de muitas pessoas de fora que elas sentem muita discriminação.
11 – Quais os pontos positivos de morar na NZ ?
Você realmente ‘vive’ – respira ar fresco, anda sem medo, deixa a casa aberta, sai do trabalho as 3 ou 5 da tarde, e vai para casa para estar com a família. Os país estão sempre com os filhos nas horas de esporte aos sábados e outros dias. A liberdade é completa, como andar e se sentir bem, em uma palavra seria ‘VIVER” – Estou falando de Hawke’s Bay, não sei se as pessoas que moram nas grandes cidades se pensam o mesmo.
12 – Quais os pontos negativos de morar na NZ?
Para mim, o frio, não gosto de inverno. Os benefícios que as empresas oferecem aos empregados no Brasil: décimo terceiro salário, ticket refeição, seguro médico, ônibus, o fundo de garantia, etc etc. Algumas grandes empresas no Brasil oferecem até yoga, spas, etc – aqui não há nada disso. – aqui você recebe seu pagamento por hora. O seu salário anual a cada duas semanas. No Brasil você pode comemorar por horas os aniversários, aqui não. Não trabalha .. não recebe. Quando sai de uma empresa não recebe nada!! Se ficar doente nos primeiros meses de empregado não recebe tampouco. Pode ficar doente, somente, 3 meses (ou cinco) depois que começa a trabalhar e tem somente cinco dias para ficar doente.
No Brasil você escolhe e vai a qualquer doutor que você quiser. Aqui você tem somente UM doutor para se registrar no centro médico do ‘pueblo”.
Para ter acesso a um especialista, primeiro, precisa ir no seu doutor, e se ele achar que precisa de um especialista, então ele faz a carta para que você seja recebido…. Demora uma eternidade…. Isto aqui na NZ chama de “lista de espera” onde muitos morrem por esperar.
NZ é muito longe de tudo – para viajar demora longas horas, tudo se torna uma eternidade. No Brasil, você pega o avião e vai para qualquer lugar do mundo.
No Brasil há excelentes dentistas!!!! Aqui não há bons dentistas. Sempre acho que um bom dentista no Brasil aqui seria muito bom – acho que dentistas estão na lista de profissionais que a NZ precisa – a lista pode ser encontrada no site de imigração da NZ.
13 – O que vc sugere para um Brasileiro que pensa em trabalhar na NZ neste momento de crise que estamos vivendo?
Durante esses 15 anos conheci alguns brasileiros que trabalharam colhendo maçãs, na fazenda onde moro. Suas histórias não são muito boas. Eu acho que cabe a cada pessoa conseguir o que realmente quer – se um pessoa sai do Brasil pensando em fazer ” qualquer coisa”, infelizmente, é isso que ela vai conseguir.
Mas se a pessoa chega com um objetivo é muito diferente. Existem muitas oportunidades para os empreendedores. Eu conheço uma brasileira que tem seu salão de manicure. Eu não sei como ela está, mas pelo menos ela está fazendo e trabalhando para seu próprio negocio.
Há muitas oportunidades para profissões que estão faltando aqui. Há uma lista no site da imigração.
Os brasileiros são muito avançados, em quase tudo, em comparação com a NZ. Há 15 anos eu era uma super esperta em um monte de coisas (word, excel, powerpoint, organização, marketing, etc) que as pessoas não conheciam aqui, especialmente porque eu tinha trabalhado em multinacionais. Muitas pessoas ao meu redor não sabiam quase nada. Agora, se eu for trabalhar em uma grande empresa no Brasil, as pessoas vão achar que eu vim do mato. E é assim que me sinto em muitos aspectos.
Eu sugiro o seguinte: Primeiro passo, decida o que você quer fazer, antes de chegar aqui. Saiba em que deseja trabalhar, onde você quer morar, o que você quer estudar, por quanto tempo você quer ficar, que tipo de casa você quer, que carro, que escola para as crianças, decida e escreva cada detalhe. Uma vez tomada a decisão, metade do desafio está concluída.
A outra metade será concluída quando você estiver aqui para por em prática.
Mensagem final da Fariddy
Cada pessoa encontrará em suas viagens o que tem dentro. Cada pessoa é única. A mesma situação pode ser completamente diferente da outra. Lembro que tudo no Brasil foi maravilhoso para mim, enquanto uma amiga peruana que veio morar no Brasil, voltou ao Peru dizendo que tudo no Brasil era muito ruim. Nossas experiências e opiniões são muito pessoais. Minha recomendação é ir onde você quer ir, sem expectativas, mas com decisões concretas.
Biografía de Fariddy Yunis
Nasceu no Peru e vive na Nova Zelândia desde 2002. Tem formação multidisciplinar, tendo estudado administração, literatura, marketing e educação.
Desde o final da adolescência, ela viajou para mais de 20 países e para mais de 70 cidades ao redor do mundo. Fariddy se estabeleceu por catorze anos no Brasil, trabalhando como assistente executivo trilíngue. Suas aventuras levaram-na aos Estados Unidos e a Israel como voluntária.
Fariddy gosta de escrever histórias para crianças e adultos. Ela é inspirada por seu filho Robert – sua fonte de alegria e grande amor.
Um “corpo saudável para uma mente saudável” é o seu mantra.
Fariddy acredita que uma atitude positiva, gratidão e entusiasmo na vida podem se transformar e recriar – começando com uma pequena dose de coragem e determinação.
Treinador de Possibilidades Infinitas Qualificadas – A arte de mudar sua vida
Em outubro de 2018 estará se graduando em Coaching Profissional.
1 Comentário
Fariddy te felicito y me siento orgullosa de ser tu madre, tu narracion es lo maximo, buenas vivencias.