Eu sempre falo que atraímos aquilo que emanamos e não o que desejamos.

Fazer o bem atrai o bem e as pessoas do bem, como o entrevistado de hoje.

Quando trabalhava na HP, a melhor empresa que trabalhei em meus 45 anos de mundo corporativo, eu tive o privilégio de criar e coordenar um projeto social,  patrocinado pela HP, de Mentoring Social para jovens de classes socioeconômicas menos favorecidas.

Na primeira turma de voluntários para selecionar os mentores eu tive a honra de contar com o Luiz Novaes. Para entenderem quem é esse cara, ele era e é chamado de Mestre.  E olha que na HP só tinha feras.

No período que atuamos juntos, no projeto social, eu aprendi muito com o Mestre Luis Novaes. Um cara super inteligente e humilde.

Acabei me desligando da HP, devido a crise mundial e o Luiz Novaes também seguiu seu caminho, mas isso ele relata abaixo no artigo que preparei para eles nos contar como é VIVER NO MÉXICO.

Aproveitem um pouco o Mestre:

1 – Quando tomou a decisão de viver no México  e por quê?

Ao sair da HP em 2010, por decisão dessa empresa, fui ser Gerente de Informática na CET/SP,  Companhia de Engenharia de Tráfego. Lá, desenvolvi um trabalho de modernização da infraestrutura de informática e de telecomunicações, executando tarefas de introdução de Plano Diretor de Informática, ITIL na operação da infra, segurança na TIC, desenvolvimento profissional do pessoal da área, entre outras ações.

Eis que por força de mudança de titular da Secretaria de Transportes da Prefeitura Municipal de SP, foram demitidos muitos gerentes e assessores, que estavam em cargos comissionados, e, entre eles… eu.

Como na época eu tinha 70 anos, não consegui outro trabalho em SP, por mais que tivesse agenda cheia de contatos.

Eis que meu filho, que trabalhava / trabalha na Cidade do México convidou-nos, esposa e eu, para vir ao México e ajudar na complementação da formação dos netos, em termos de valores, cultura, visão de mundo e até em matemática, o sempre presente fantasma na vida dos netos estudantes.

Tomamos a decisão de vir, vendemos o apartamento, despedimos de todos os amigos e … bola para a frente!

2 – O que você sentiu quando realmente tomou a decisão de sair do Brasil?

Não estive confortável ao deixar para trás amigos, parentes, meus hábitos, clube e partir para outro país, outra cultura, língua, alimentação, costumes, clima, só conhecendo os familiares próximos.

Sou reconhecidíssimo ao Brasil, pois estudei em escola de engenharia do Ministério da Aeronáutica, ensino de alto padrão, alimentação, alojamento, tudo pago pelo contribuinte.

Já havia vivido na Europa por 3 anos, trabalhando em multinacional. Ao cabo desses 3 anos me propuseram ficar na Europa, mas pedi para voltar ao Brasil, dada a dívida de gratidão que tinha para com nosso país.

Mas, 38 anos depois da volta da Europa, com experiências em indústria de produtos de consumo diário, rede de lojas de departamentos, introdução da automação comercial no Brasil, desenvolvedor de aplicações de marketing digital, e na HP e CET/SP, deparei-me com a realidade de como continuar a vida em SP, sem emprego por causa da idade e só contando com o que o INSS paga?

Só me restou a emigração à busca de novos horizontes, e a absorção psicológica do fato de ser considerado excluído do mercado de trabalho em meu país, por força de idade cronológica, embora em plena saúde física e mental, atualizado profissionalmente.

Evidência de um fenômeno ainda não resolvido, o da discriminação contra “idosos” no mercado de trabalho formal?

3 – A sua família aprovou o novo desafio?

Sim! Fui convidado por meu filho, que se encarregou da papelada para nossa entrada no México e depois o recebimento de status de Residência Permanente. Processo de reunificação familiar. Nos abrigou em sua casa até que nos mudássemos para apartamento em Polanco,  zona agradável na Cidade do México.

Minha esposa concordou e, lá viemos, em outubro de 2010.

4 – Qual a cidade que você mora? Você já tinha emprego garantido na nova cidade?  Se negativo, se preparou para este novo desafio de procurar um novo emprego?

Eu já dominava o idioma espanhol, mas tive de aprender muitas expressões idiomáticas e gírias locais.

Morei na Cidade do México (CDMX) e agora em cidade na zona metropolitana, cidade de nome complicado, Huixquilucan. Estou em altura alpina, cota 2640 m e no 22º andar…

Não tive promessa de emprego garantido. A garantia era a de que encontraria a família aqui instalada, de braços e corações abertos. Pouco depois de minha chegada, me convidaram para ser membro do Comitê Técnico da Fundación ProEmpleo, que é como o SEBRAE, que visa preparar empreendedores para a dura luta no mercado.

No ProEmpleo tenho função de Mentor, agora de startups. É a pessoa empreendedora que paga por série de 5 a 10 sessões de mentoring. É ocasional, sem continuidade.

Ensino idiomas português-brasileiro e francês (havia muita demanda por nossa língua, mas, depois da derrocada da economia brasileira, caiu muito a procura por português), em nível executivo, focando em conversação sobre temas econômicos, políticos, técnicos. Idem, ensino matemática, nível de exame GMAT e Cálculo I e II para alunos de engenharia e economia.

Trabalhei por uns meses na Câmara de Comércio Mexicano-Brasileira como Business Developer, fazendo o “handshake” entre quem queria investir no Brasil ou empresas brasileiras no México. Diminuiu notavelmente o volume de interessados, por força do cipoal fiscal e burocrático brasileiro e o arrefecimento da economia.

5 – Como foi o processo de desligamento do Brasil? (toda a burocracia para sair e ir para um novo país).

O processo formal foi simples. Não dei baixa no Imposto de Renda (saída definitiva), pois recebo a aposentadoriazinha do INSS. Nomeei dois procuradores, mantive contas e aplicações em bancos em São Paulo. Tive de declarar obras de arte que deixavam o país, quadros, sem problemas.

No consulado do México processaram rapidamente os papéis de autorização de entrada neste país e a declaração de objetos de nossa mudança que entraram pelo porto de Veracruz.

6 – Como foi o processo de chegada no México e toda a preparação para das coisas, como casa, carro, documentação, internet, etc etc? É verdade que demora quase 1 ano para acertar tudo?

Com os vistos de entrada chancelados pelo Consulado do México em São Paulo, passamos sem mais delongas pela Imigração no Aeroporto e posteriormente no INM – Instituto Nacional de Migração, na CDMX. Aconselha-se constituir advogado para seguir os trâmites no INM, embora a pessoa pode fazer tudo por si mesma. Há filas de imigrantes no INM.

O importante aqui é ter-se comprovante de residência. Valeu o de minha nora, como primeiro passo. Daí, foi muito rápido abrir conta em banco, comprar carro, alugar residência, telefone fixo e celular, internet, TV a cabo etc.

A comprovação pode ser feita por conta de luz, telefone etc. sem maiores exigências de documentos de cartório (“notarías”) nem policiais. O que toma algum tempo é que você está sem despachante, coisa que cá não há, e que tem de fazer tudo sozinho.

7 – Quais foram os maiores desafios nos primeiros meses?

Logo que cheguei, fiz um voto de comer de tudo, sem frescuras. Resultado, em 3 meses estava no médico, tive de sofrer tratamento cirúrgico, “you know where”, para curar os efeitos dos condimentos e chiles…

8 – Qual a estimativa de custos mensais para 1 casal de aposentados para viver no México alugando um apartamento de classe média com 2 dormitórios.

O aluguel varia muito de bairro para bairro, mas considere 30000 pesos ( em torno de 6000 reais ) você vive em bairro bonito e seguro, com tudo por perto, serviços, supermercados, cinemas, museus, etc.

Diria que são suficientes uns 17 mil pesos mensais (equivalentes a 3500 reais) para as despesas de carro, luz, telefone, condomínio, gás, etc.

Os impostos são baixos, relativamente ao Brasil, quase tudo a 17%.

Vendi meu Citroën em São Paulo e com a quantia em dólares comprei uma VW Tiguan. Questão de impostos mais baixos..

Não considerei as variáveis, que dependem do estilo de vida do casal.

9 – O que sente falta do Brasil?

Os amigos e parentes que aí deixamos. Se fosse a comida, aqui há diversos restaurantes brasileiros, em especial o Garota, simpático e que tem de tudo que um patrício gosta.

10 – Qual a aceitação dos Mexicanos dos expatriados brasileiros?

São bastante simpáticos, desde que você não queira mostrar-se superior, em especial no futebol… Notar que sofreram invasões de exércitos americanos e franceses, o processo de independência tomou 26 anos; têm em geral alguma desconfiança inicial com estrangeiros. Passada a fase de reconhecimento de quem você é, são acolhedores. Construímos amizades muito bacanas por aqui, gente culta e viajada.

Por força do artigo 33 da Constituição local, estrangeiros não podem expressar em público seus posicionamentos em política interna mexicana, o que evita discussões.

Aqui em minha cidade há muitos brasileiros, em cargos executivos e técnicos. Reportam que têm de seguir maneiras de comunicar, sem ofender os brios locais. Na CDMX, verdadeira megalópole, encontram-se pessoas brasileiras de todos os tipos. Interessante ir votar para presidente na Casa de Cultura do Brasil e ver a variedade que há entre os brasileiros aqui residentes.

11 – Quais os pontos positivos de morar no México?

Custo de vida menor que em São Paulo: fator muito importante para quem tem renda menos confortável.

Vida cultural intensa: a CDMX é a cidade que mais tem museus, no mundo! Riqueza cultural, três culturas: a pré-colombiana, a do Vice-Reinado e a moderna, esta rica e pujante.

Aqui tem de tudo, de todos os países, a preços acessíveis. As barreiras comerciais são pequenas, imposto de importação a 17% e só. Preços competitivos aos praticados nos USA.

12 – Quais os pontos negativos de morar no México?

Como tem 21 milhões de habitantes, o trânsito é difícil, em geral não respeitam regras de condução. Fecham cruzamentos, ultrapassam em velocidade pela direita etc. E muita gente no centro da cidade, você se sufoca.

A cultura da “mordida”, corrupção diária em pequena escala (para não citar o que se passa mais acima… pois calo-me, em respeito ao artigo 33…). Sente-se a “mordida” no policial de trânsito, por exemplo. Eu desenvolvi um “kit” protetor, não fui mais importunado por policiais do trânsito, que buscam descolar dinheiro, via “mordida”.

Os níveis de violência são altos, comparáveis ao Brasil. As lutas entre “gangs de traficantes de drogas deixam vítimas em tiroteios.

E, por fim, há a questão dos terremotos…

13 – O que vc sugere para um Brasileiro que pensa em trabalhar no México neste momento de crise que estamos vivendo?

Primeiramente, o mercado de trabalho é protegido, como em qualquer país. Não basta chegar no aeroporto e gritar “nativos, cheguei!” para encontrar uma boa colocação, sem o “backing” suporte de uma empresa.

E só pode trabalhar (sem ser na clandestinidade) se tiver visto de trabalho ou residência permanente.

Vide: https://www.gob.mx/sre/acciones-y-programas/visa-de-residencia-permanente

Para condições de trabalho:  https://consulmex.sre.gob.mx/barcelona/index.php/ingreso-de-turistas/111

Tem alguns brasileiros que dão o seguinte jeitinho: entram em redes sociais e namoram uma mexicana. Vêm para cá e se casam com a pessoa e assim recebem em pouco tempo o visto de trabalho. O divórcio é muito fácil, aqui no México, se o caso não der certo. Mas a pessoa já tem o visto no bolso…

Sugere-se consultar a Internet ou um Consulado do México no Brasil: http://consulados.com.br/mexico/

Biografia do Luiz Novaes
  • No México atuo como Mentor de startups, Fundación ProEmpleo, CDMX
Antes de vir ao México:
  • Gerente de Informática, CET-SP, Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo
  • Gerente de Pré-Vendas de Serviços da HP Brasil. Antes, Client Principal, Senior Consultant (HPConsulting)
  • Informatel Marketing Digital, orientado a Vendas de soluções de Marketing Digital
  • Diretor Gerente da Associação Brasileira de Automação Comercial
  • CIO Mappin Lojas de Departamentos
  • Gerente de Organização e Sistemas, Nestlé Brasil
  • Especialista em Operations Research, Nestlé, Vevey, Suíça
  • Gerente de Estudos Econômicos, Nestlé Brasil
  • Gerente de Estudos Especiais, Nestlé Brasil
Formação:
  • Engenheiro Mecânico de Produção, Instituto Tecnológico de Aeronáutica
  • IMD – International Institute for Management Development, Lausanne, Suíça
  • FGV-SP – Cursos presenciais semestrais de Finanças, RH, Entidades do 3º Setor, on-line de Mentoring e Pedagogia para Curso Superior
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