Quem não tiver estratégia para o seu envelhecimento vai fazer parte da estratégia de alguém.
Planejar para uma velhice tranquila deveria ser uma obrigação para as pessoas e para o governo. Envelhecer com qualidade de vida é um privilégio para poucos no Brasil.
O envelhecimento da população é um fenômeno que já não pode ser ignorado.
O envelhecimento no século XXI foi apresentado pelo Fundo de População das Nações Unidas em 2012. Seguem as informações mais relevantes.
Mais informações pelo link. www.unfpa.org
No mundo todo, a cada segundo 2 pessoas celebram seu sexagésimo aniversário. Uma a cada 9 tem mais de 60 anos de idade ou mais e estima-se um crescimento para 1 a cada 5 por volta de 2050.
Globalmente, as mulheres formam a maioria das pessoas idosas. Hoje, para cada 100 mulheres com 60 anos ou mais em todo o mundo, há apenas 84 homens. E para cada grupo de 100 mulheres com 80 anos ou mais, existem apenas 61 homens.
Existe no Brasil uma grande desigualdade social e não consigo imaginar o futuro dos idosos que dependem da aposentadoria do governo para viver.
Chega uma idade que nos tornamos quase tão dependentes como uma criança pequena, isto é, precisamos de outras pessoas para nos ajudar a viver de forma digna, inclusive para questões básicas como caminhar e asseio pessoal.
Os idosos carentes, geralmente, ficam na dependência de alguém para ajudá-los, mas os familiares têm seu trabalho e outros afazeres, enfim sua vida para cuidar e não conseguem dar a devida atenção aos mais velhos, porque muitos deles precisam de cuidados de profissionais qualificados, às vezes por 24 horas e torna-se muito difícil aos familiares assumir este papel, já que alguns até ficam doentes, pois não aguentam tanto trabalho e estresse.
Como os custos para manter cuidadores de idosos em casa são bem elevados, está crescendo muito a oferta de residenciais para idosos que têm a infraestrutura para cuidá-los durante 24 horas. Mas isso ainda é uma opção para poucos no Brasil, pois o preço é muito elevado para àqueles que tem a aposentadoria como único recurso.
A ideia de um centro de convivência para idosos como um local triste, austero e agressivo é coisa de um passado sombrio e que precisa ficar no passado, esquecendo também a imagem dos antigos asilos como única alternativa para a vida de tais pessoas.
Aquilo era deprimente, pois os idosos não tinham nenhuma atividade que promovesse a autoestima, o bem estar e a qualidade de vida em todos os sentidos.
Para pessoas que se encontram na melhor idade e que não dependam de cuidados especiais e desejam viver em comunidade, existe um novo modelo, chamado “cohousing”, de moradia que surgiu na Dinamarca e está se disseminando pelo mundo.
O “Cohousing” são comunidades de vizinhos intencionais e colaborativa. Eles trazem juntos as vantagens dos lares privados com os benefícios de uma vida mais sustentável. Isto significa residentes participando ativamente no desenho e operação das vizinhanças e compartilhando as facilidades de uso comum e boas conexões com seus vizinhos.
A boa notícia é que em 2007 foi inaugurado em São Paulo a Vila dos Idosos, o primeiro projeto social para dar assistência às pessoas da terceira idade, bancado pela prefeitura de São Paulo no bairro do Pari, na capital de São Paulo.
Em um local com 8 mil m2 de área construída, abrigam 175 moradores, vivendo em 145 apartamentos.
Construído exclusivamente para pessoas com mais de 60 anos, o morador paga 10 % de seu rendimento, seja quanto for, e um condomínio de mais 35 reais para viver na vila. O idoso que consegue a vaga, ganha o direito do usufruto, podendo viver lá a vida toda, mas sem que o apartamento se torne sua propriedade. Quando um morador vem a falecer, uma nova vaga é aberta.
Outros projetos implementados pelo governo são os Condomínios Cidade Madura na Paraíba, já com 4 unidades nas cidades de João Pessoa, Campina Grande, Cajazeiras e Guarabira, mais um em construção na cidade de Sousa. Nestes condomínios para idosos eles têm espaço de convivência social, com ambientes específicos para eles, como o centro de vivência (Um espaço que ofereça momentos de descontração e relaxamento à comunidade), o posto de saúde, enfim, com tudo que eles precisam.
A luta agora é para que esse modelo se transforme em novos projetos do governo em todo o Brasil.
Um exemplo de projeto privado é a iniciativa dos professores da Unicamp da Vila ConViver. Uma área de 20 mil m2 no subúrbio de Campinas, em São Paulo, irá abrigar, principalmente, professores aposentados da Universidade Unicamp.
O ponto-chave do projeto é o convívio social e o apoio mútuo. Todas as decisões serão tomadas em conjunto. Cerca de 70 pessoas participam do projeto, costurado há três anos.
O custo estimado será de 400 mil por unidade.
Diferentemente de um condomínio onde você escolhe a casa, a moradia, o preço e as facilidades, e depois vai conhecer os vizinhos, neste condomínio em Campinas: primeiro eles irão escolher os vizinhos, pessoas que estão alinhadas com os seus valores.
Neste modelo privado de “cohousing” o objetivo é que as comunidades funcionem fora do individualismo contemporâneo, pois se constitui num modo de vida cooperativo, que vai além da lógica de emprestar café.
Como por exemplo:
Um morador com habilidades em carpintaria – ou em qualquer outra atividade – pode ensinar suas técnicas aos jovens e demais pessoas de sua comunidade, ou ainda, uma vizinha que goste de animais, pode cuidar do animalzinho de outra que saiu de viagem.
Outro ponto positivo neste tipo de modelo é a segurança. Além da segurança 24 horas ser compartilhada por todas num ambiente controlado, as pessoas estarão mais conectadas no dia a dia, isto é, podem ajudar umas as outras caso algo anormal ocorra. Raramente em prédios residenciais normais, os vizinhos se conhecem, mesmo morando ao lado.
Uma outra opção são os modelos de residenciais para idosos, mas a proposta é distinta e vai ser matéria para um outro artigo que estou desenvolvendo.
Conclusão:
A única certeza que tenho é que nossa geração precisa planejar com cuidado como deseja viver a velhice, pois não podemos deixar este problema nas mãos dos filhos e/ou familiares, não porque eles não queiram assumir este compromisso, é que no mundo que estamos vivendo, está difícil de cuidar de nós mesmos.
Os parentes, possivelmente, não terão condições financeiras para arcar com gastos elevados, e nem todos têm conhecimentos e energia para aguentar um trabalho tão pesado que é o de cuidar de uma pessoa que precisa de uma atenção especial nessa fase da vida.
Por favor, comece a planejar isso antes que alguém decida onde e como você vai viver a sua velhice.