O meu objetivo não é filosofar sobre este tema, mas comentar como aprendi a parar de ter vergonha da minha situação financeira quando era jovem.

Talvez você se sinta assim, até hoje,  e está ceifando sua própria vida.

Venho de uma família pobre, mas muito rica nos valores éticos e morais necessários para educar todos os 5 filhos.

Estudei na época em escolas públicas de qualidade (infelizmente raras hoje).

Consegui fazer o curso profissionalizante, equivalente ao ensino médio, e me graduei como Técnico em Eletrônica, pagos com o suor do meu trabalho durante o dia.  O mesmo fiz para pagar a minha graduação em Engenharia. Meus país nunca tiveram condições de pagar meus estudos, mas se privaram de fazer várias coisas, para eles próprios, em prol dos 5 filhos.

Certa vez, quando trabalhava no Banco Bradesco como técnico, estava reparando um computador com um amigo, também técnico,  numa agência do Bradesco próximo do Morumbi Shopping, na zona sul de São Paulo (na época este shopping era o mais chic de São Paulo) e decidimos ir almoçar lá.

Eu não conhecia este shopping,  pois morava na zona leste e este local não fazia parte da minha posição social e financeira.

Estacionamos o carro bem na entrada dos restaurantes dos bacanas, pois não sabíamos que tinha a área de fast food.

Ganhávamos muito pouco de ticket refeição. Mesmo na área do fast food nosso ticket diário não cobriria o custo da refeição ou lanche.

Mas como disse entramos na área dos bacanas e lembro que havia um restaurante maravilhoso, todo de vidro na parte frontal. Sem pestanejar nós 2 entramos, todo orgulhosos de estarmos aproveitando aquela experiência única.

Estávamos vestidos com roupas simples, como sempre, distoantes dos homens e mulheres bem trajados com ternos e roupas de marca.

O garçom nos trouxe o cardápio. Levei um susto. Meu amigo olhou para mim, e li nos olhos dele aquela pergunta. E agora o que faremos?

O preço mais baixo do cardápio era o valor que tínhamos para almoçar por 10 dias.

Neste momento eu me senti com vergonha de levantar e ir embora.

                    Fiquei com vergonha de ser pobre.

O que as pessoas iriam dizer. Irão fazer chacota de nós.  O que o garçom vai pensar. O meu amigo pensou o mesmo. Eu tenho vergonha de sair daqui.

Enfim, decidimos ficar e almoçar lá.  Pedimos o prato mais barato e nem pedimos nada para beber.

Como o restaurante era de vidro eu conseguia ver os vários executivos olhando o cardápio que fica postado na porta do restaurante (alguns entravam outros não).  Pensei, eu fui burro eu deveria ter olhado antes. Mas como disse aquilo era tudo muito novo para mim. A minha primeira experiência comendo num restaurante chic, para os padrões da época.

Paguei a conta com dor no coração pois sabia que não iria ter dinheiro,  para almoçar nos outros 9 dias.

Quando saí do restaurante me senti um tolo.

Naquele dia aprendi e prometi para mim mesmo. Eu jamais, novamente, vou ter vergonha de ser pobre.

O preço maior não foi pagar a refeição, mas sentir aquela sensação de não ter tomado a atitude certa que seria me retirar do restaurante, explicando para o garçom que o preço estava fora da nossa condição financeira.

Quantas pessoas deixam de se divertir por não terem condições de comprar uma roupa adequada para uma festa, show, etc.

Quantas pessoas pobres não aceitam um convite para uma festa pois não se sentem confortáveis de ir numa casa de uma pessoa mais rica.

Infelizmente o mundo está cada vez mais desigual e acabamos nos privando de fazer as coisas pela nossa condição financeira.

Depois daquele dia no restaurante aprendi que iria viver a vida como ela é.  Lutar sempre por uma condição financeira melhor, mas jamais deixar de me divertir por me sentir pobre.

Talvez sejamos motivos de comentários e até de chacotas,  de algumas pessoas que se sentem melhor que nós por sua condição financeira, mas jamais vou deixar de viver por elas.

Eu,  jamais quero ser o juiz de meus atos me limitando por me achar menos.

Somos únicos e perante a Deus somos todos iguais.

*** Depois disso, ao longo da minha vida, por várias vezes,  me levantei de restaurantes finos com preços fora da minha condição financeira, pois sempre me recordo da primeira vez que aprendi esta lição.
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