A vida sustentável é a prática de reduzir sua demanda em recursos naturais, certificando-se de que você substitui o que você usa ao máximo de sua capacidade. Às vezes isso pode significar não escolher consumir um produto que seja feito usando práticas que não promovam a sustentabilidade; e às vezes significa mudar a maneira como você faz as coisas para que você comece a se tornar mais uma parte ativa do ciclo da vida.
Todos sabemos que as mudanças climáticas, o aquecimento global, o esgotamento da camada de ozônio e o esgotamento de recursos são reais e seu impacto na vida humana e animal pode ser devastador. É uma oportunidade para as pessoas adotarem ações para uma vida sustentável que possam ajudá-las a reduzir sua pegada de carbono ou impacto ambiental, alterando seu estilo de vida. Medidas simples, como usar o transporte público com mais frequência andar de bicicleta, reduzir o consumo de energia, tornar-se mais amigáveis com o meio ambiente podem percorrer um longo caminho para reduzir seu impacto ambiental e fazer deste planeta um lugar limpo e seguro.
Hoje estou com a Rose e a Daisy, que decidiram há muitos anos viver de forma sustentável em Itamonte no Sul de Minas.
Largaram uma vida confortável,mas estressante na capital de São Paulo para construir um novo capítulo no campo.
1 – Como tudo começou, isto é, quando vocês decidiram que precisavam ter uma vida mais simples e sustentável ?
Trabalhava numa empresa durante o dia, à noite em um consultório de psicologia e nos finais de semana ministrava cursos. Chegou um momento que percebi que estava ficando doente. Esgotada física e emocionalmente. Muita agitação física e emocional. Naquele ritmo eu fatalmente teria um infarto, AVC, etc. Então começamos a traçar como queríamos viver depois dos 50.
Tínhamos um grupo de amigos(as) bem grande que partilhavam da mesma situação e, num encontro informal, decidimos envelhecer juntos. Sair da capital e viver todos juntos no mesmo espaço, que hoje chamam de Ecovila, ( não sabíamos que tinha esse nome na época).
Queríamos comprar uma área onde todos construíssem suas casas de forma sustentável, não uma casa de 100 m2,mas uma casa que pudesse ter um espaço máximo de 50 m2 com um banheiro modesto e as refeições, escritórios, enfim, as áreas comuns seriam compartilhadas, evitando assim gastos desnecessários com a compra de equipamentos, eletrodomésticos e outros utensílios em cada casa.
Infelizmente todos os amigos que partilhavam o mesmo pensamento, decidiram não nos acompanhar, pois não estavam prontos para esse tipo de mudança – ainda não era o tempo deles.
2 – No seu ponto de vista a idade influencia nesta decisão, ou independe da idade ?
Para nós a idade influenciou bastante, pois como vínhamos de uma cidade grande, num contexto extremamente consumista, tivemos um tempo para desapegar das coisas e tínhamos uma preocupação de ter uma renda mínima necessária para ter qualidade de vida também.Tivemos que aguardar nosso filho se formar, e o tempo de nossa aposentadoria, desta forma a idade influenciou.
Mas hoje vivendo aqui, vemos que tem muitos jovens ( em torno de 25 anos de idade ) não querendo fazer o percurso que fizemos, de trabalhar numa empresa, ou ser um funcionário público. Eles não querem esperar este tempo, já querem ter uma vida sustentável no campo.
3 – Quais são os fatores e/ou valores que vocês encontram nas pessoas que largam tudo, ou quase, para viver esse modo de vida. ?
O valor maior é a qualidade de vida e a integração com a natureza.
Hoje sabemos que a origem de muitas doenças advém do afastamento dos reinos mineral, vegetal, animal e espiritual, então percebemos que este afastamento pode provocar muitas doenças tanto físicas como emocionais ( síndrome do pânico, depressão, angustia e outros).
4 – Vocês moraram por um longo período na cidade. O que é possível fazer nos grandes centros para iniciar uma vida sustentável.
Sim, é possível ter uma vida sustentável em grandes centros urbanos desde que sejam em casas. Conhecemos alguns amigos em São Paulo em que foram implantados vaso sanitário seco, composteira, captação de água de chuva, horta orgânica, herbário, etc. Utilizam também de roupas orgânicas, produtos de higiene e limpeza biodegradáveis, coletor menstrual, fraldas orgânicas, etc.
5 – Ter uma vida simples é ter uma vida sustentável ?
Hoje por conta da mídia, independente da mídia, as pessoas também da roça aderiram a este tipo de vida que eles veem nas novelas, a casa, a roupa – então é muito comum na área rural, algumas pessoas deixarem de produzir sua horta, deixarem de ter uma vida simples para ter uma vida que eles veem pela tela da TV.
Então, eles pararam de plantar, querem trabalhar como caseiros de quem chega de São Paulo, Rio de Janeiro, enfim dos grandes centros para ter salário e comprar no mercado.As meninas daqui não querem mais tecer, fazer um tear, elas querem comprar uma roupa que viram na novela.
Ter uma vida simples não é ter uma vida sustentável.
Elas têm uma vida simples pois moram na roça, mas elas querem ter as mesmas coisas que as pessoas que vivem nos grandes centros.
6 – Quais são as restrições, que vocês têm, por ter uma vida sustentável ?
No início sentíamos falta da vida social de São Paulo, como teatro, cinema, as oportunidades de cursos, as compras, etc. Quase tudo vem de São Paulo, então o custo é muito maior para itens como roupas, material para artes e costura, etc.
A primeira restrição quando chegamos foi a falta de energia elétrica e tudo que advém dela ( TV, refrigerador, máquina de lavar, rádio, etc ), mas aprendemos a viver sem e muito bem.
Depois de 3 anos conseguimos a implantação da energia elétrica e depois de 4 anos conseguimos Internet via rádio. Podemos dizer que hoje, temos quase tudo aqui e quando precisamos de alguma coisa que não encontramos aqui, vamos para São Paulo e aproveitamos para visitar a família, vamos ao teatro, cinema, etc.
7 – Vocês são mais felizes agora, e por quê?
Eu acho que chega uma idade que a gente procura ter paz. E morar na montanha é muito fácil ter paz. A gente tem o silencio, temos água boa de nascente, e o que não produzimos o vizinho produz.
Atendemos pessoas da região e a forma de pagamento é a base de troca. Dizemos que hoje servimos a nossa comunidade. Damos o nosso trabalho e o paciente dá em troca o trabalho dele e normalmente recebemos em queijo, geleia, abóbora, frango, ovos, bombons de pinhão, verdura, inhame … que são itens que compraríamos.
Então a gente tem este conceito de felicidade, por conta destas facilidades – pois temos harmonia, temos bons vizinhos, tem ar e alimentação boa … então isso traz indiretamente felicidade.
Agora se você perguntar se eu sou feliz. Eu posso questionar o que é felicidade ?
Se eu pensar que ainda estou no mundo que tem crianças que morrem por desnutrição – quando vamos para São Paulo vemos uma quantidade imensa de pessoas dormindo nas ruas, claro que isso não me dá felicidade nenhuma.
Mas quando estamos aqui, sim, temos momentos de felicidade – é um momento de paz, de alegria e eu escolhi estar aqui nesta fase da minha vida e me preparei para estar aqui, Então isso me dá uma sensação de felicidade.
8 – Os custos são mais altos por ter uma vida sustentável? Por exemplo, os alimentos orgânicos são mais caros e desta forma, a população de baixa renda não poderia aderir.
Isto é quase um chavão. Produtos orgânicos são muito caros e não são bonitos. Não são belos para os olhos. Morando na roça temos outros conceitos. Os produtos da roça são grandes, são bonitos e vistosos.Quando os produtos precisam ser enviados para a cidade devem ser colhidos muito antes do tempo e são deteriorados no transporte e desta forma a aparência não é tão boa.
Nós fazemos a seguinte analogia, uma associação. Caro é remédio.
Uma pessoa não gasta 100 reais na compra de produtos orgânicos para 1 semana, pois acha que é caro se comparado com os produtos do mercado e da feira, mas se ela tem uma infecção e vai à uma farmácia e compra um antibiótico por 150 a 200 reais e não acha caro.
Caro é comprar uma pizza por 70 reais que vai consumir em 10 minutos, mas não comprar 100 reais de produtos orgânicos que vai durar 1 semana.
9 – O que as pessoas mais pobres poderiam fazer para ajudar o planeta ?
As pessoas pobres acabam poluindo menos pela falta de acesso às informações e condições financeiras para consumir mais, isto é, não colecionam coisas, não têm 3 ou 4 carros, não consomem exacerbadamente.
10 – E os mais ricos ?
Aí vamos para outro extremo. O ideal seria o equilíbrio, pois nenhum extremo é salutar. O rico tem acesso à informação mas nem sempre tem conhecimento e sabedoria para usar esse acesso que ele tem.
Um exemplo bem básico.
Um rico que coleciona relógios. Ele está retirando da natureza um recurso que com certeza vai virar lixo. Como ele tem condição financeira, ele vira um colecionador, de óculos, de sapatos, de bolsas, então, ele não está contribuindo para o equilíbrio do planeta.Hoje muitas casas, com vários cômodos, não são sustentáveis, pelo que vai consumir de água, de luz, de móveis, etc.
Durante muito tempo nós acreditamos que o planeta era infindável. Hoje sabemos que ele tem fim. Ele está exaurido – esgotado, por conta deste consumismo.
11 – E sobre as Ecovilas ? É uma opção para quem deseja viver dessa forma sustentável?
Para ser uma Ecovila precisa ter uma liga. Pode ser uma liga espiritual, filosófica, etc. Quando uma pessoa toma a decisão de vir para uma Ecovila, começam a aparecer divergências de opiniões.O ideal seria que uma Ecovila desse certo. Existem algumas Ecovilas no Brasil que ainda estão acontecendo, mas a nosso ver o ideal seria assim, como está acontecendo em nossa região.
Cada pessoa mora em seu sítio ou na sua propriedade, então, juntos, cada um no seu espaço, faz daquela região uma comunidade. Uma integração um com o outro, mas cada um no seu espaço.
O ser humano não aceita muito as regras dos outros. É muito difícil a convivência com o ser humano.
Aqui promovemos encontros entre os grupos, fazemos mutirões, encontros, vivências, troca de conhecimento, troca de sementes, etc. Hoje é mais viável essa nova forma de viver
Eu acho que com o tempo nós vamos caminhar para viver em comunidade com harmonia.Mas ficamos muito tempo no individualismo. Então é muito difícil a pessoa abrir mão de seus próprios conceitos, estamos caminhando para isso, mas ainda não estamos preparados para viver isso.
As pessoas ainda sentem a necessidade de estarem apegadas ao que têm, não aprenderam a compartilhar.
Numa Ecovila parte-se do pressuposto que tudo é comum a todos. Mas para ser comum a todos tem que ter regras.O que eu tenho como regra, como ética, como verdade é diferente de seu ponto de vista e ai começam as divergências.
Conhecemos alguma Ecovilas que começaram com esta prática, mas infelizmente não está funcionando desta forma.Algumas Ecovilas se desmancharam por conta desta desarmonia, por não encontrarem um ponto de liga.
Hoje existem espaços que funcionam mais como um espaço comunitário, mas não como uma Ecovila modelo.