Tenho uma amiga brasileira ( Lilian Schaffer ) que mora na Flórida e vários amigos no Brasil que estão se dedicando à arte de criar e produzir cervejas artesanais. Começa como um hobby para seu próprio consumo, mas vão pegando o gosto e cada vez mais se especializam.
Olha só uma parte dos equipamentos para produzir a cerveja da marca Schaffer na casa da Lilian e o produto já embalado para consumo.
Muitos já pensam em até montar seu próprio negócio como muitos empresários bem sucedidos que começam de forma caseira e crescem aos poucos conquistando nichos específicos do mercado.
Este é o caso do meu amigo João Carlos Sposito, que tive o previlégio de conhecer no mundo corporativo. Ele começou sua pequena produção de cervejas artesanais com a marca “MINGO cervejas artesanais”, uma homenagem a seu querido pai amante de uma boa cerveja.
Como a cerveja é uma paixão nacional como o futebol, eu pedi ao João escrever um artigo bem detalhado sobre a fabricação de cerveja, pois pode ser a fonte de inspiração para outras pessoas que desejam ter um hobby semelhante.
O artigo está bem completo e no final vários links para aqueles que desejam se aperfeiçoar.
1 – Quando começou a praticar seu hobby preferido e por quê?
Fazer cerveja é mais do que um hobby, mas comecei a pensar nisso seriamente em novembro de 2016, quando provei a cerveja feita por um primo e fiz minha primeira cerveja em março de 2017, depois de pesquisar bastante e optar por montar meu equipamento.
2 – O que você sentiu, e sente, quando pratica este hobby?
São vários momentos e sensações, no meu caso, começa com a escolha do estilo e a montagem da receita, com alguma pesquisa de campo (provar cervejas semelhantes) e pesquisar os componentes. São mais de 200 estilos e infinitas variações. É o desafio de criar uma boa cerveja.
O próximo passo é a brassagem, onde acontece o trabalho pesado. Os maltes escolhidos vão para a panela cozinhar e trabalhamos no que se chama a parte quente de produção do mosto cervejeiro. É nesta etapa que se colocam os famosos lúpulos, que vão contribuir com o aroma, o sabor e o amargor da cerveja.
Os maltes vão contribuir com a cor e parte do aroma e sabor. São dezenas de opções de maltes e lúpulos com combinações ao gosto do cervejeiro. O desafio é seguir os procedimentos e controlar as temperaturas e a duração de cada fase.
Como o meu objetivo é produzir novas cervejas, aperfeiçoar o resultado e reproduzi-lo; o controle e o processo são muito importantes. O equipamento e a configuração, além de ajudar e melhorar o resultado ainda facilitam o trabalho do cervejeiro.
A cada brassagem meu equipamento ganha alguma melhoria, tornando o processo mais tranquilo e eficiente. Não tem monotonia! Esta etapa é a que exige mais esforço, já que são muitas horas de cuidados e atenção (no meu caso). A última etapa da brassagem é o resfriamento do mosto e a colocação no fermentador com as leveduras.
A terceira fase do processo é a fermentação e aí a palavra chave é a paciência. Nesta etapa quem trabalha duro são as leveduras, que vão transformar o açúcar extraído do malte em álcool e CO². Enquanto espero a mágica acontecer vou acompanhando o processo e garantindo as melhores condições de trabalho para as leveduras, com controle preciso de temperatura e medições e avaliações praticamente diárias. Dependendo do estilo da cerveja esta etapa pode durar de duas semanas até meses (ainda não fiz nenhuma cerveja com este tempo de maturação). Aí é engarrafar e esperar mais uma semana para a cerveja carbonatar (onde ganha gás e espuma).
Depois é correr para o abraço e abrir uma com os amigos e aguardar os elogios. É um grande prazer poder dividir o resultado do trabalho com outras pessoas e saber que não existe nenhuma outra cerveja igual aquela.
Cada uma é um desafio e um mistério. Você pode cometer um erro fatal em alguma parte do processo e ter que jogar o resultado no ralo… mas isso ainda não aconteceu comigo.
3 – Qual o sentido que isso traz à sua paz mental, emocional, espiritual?
Fazer cerveja tem sido muito prazeroso, o desafio de criar uma boa cerveja tem sido muito especial e cada cerveja aberta é uma pequena recompensa pelo trabalho feito. Mesmo do lado social, a cerveja acaba sendo um catalizador para ótimos encontros com amigos novos e antigos. Nada como beber uma boa cerveja feita por mim com amigos para melhorar o astral.
4 – Quantas vezes você pratica por semana/mês ? Quando se vê impedido de praticar, qual o efeito ao seu equilíbrio emocional, à sua mente ou corpo?
Este Hobby esta ficando cada vez mais serio e quando fico algumas semanas sem produzir uma nova leva, sinto falta. Tenho aumentado a frequência e quero chegar a produzir semanalmente e manter mais amigos felizes. Vem uma sensação de desperdício quando não tenho pelo menos uma cerveja fermentando na geladeira…
5 – Você se sente diferente – na concepção de sua estrutura emocional – quando o pratica?
Em quê? Como? Em que intensidade?
Fiquei mais tranquilo depois que comecei a produzir cerveja. Sinto-me mais confiante. Tenho conhecido pessoas interessantes que apreciam o que tenho feito além de ter me reaproximado de amigos e colegas de longos anos. Sensação muito boa a de poder compartilhar o que foi criado por você.
Realmente me dá vontade de continuar estudando, melhorar a cada vez e produzir mais.
6 – Já teve outros hobbies? Parou ou diminuiu o foco para se dedicar a este que pratica hoje.
Já mergulhei e velejei. Também me deram muitas alegrias, mas fiquei sem barco e não mergulho há alguns anos. Sem dúvida é mais fácil encontrar amigos dispostos a compartilhar cerveja, mas tenho saudades de ambos.
7 – Como sabe nosso publico é mais sênior e desta forma, solicito que nos dê algumas dicas para quem pretende começar com a prática deste hobby hoje, isto é, começando com baixo custo e ir investindo aos poucos.
Existem diversos métodos para produção de cerveja em casa. Dos mais simples, com uma panela e o fogão de casa até panelas automatizadas, cujo objetivo é simplificar o processo e ocupar menos espaço, mas que são mais caras.
Tem para todos os bolsos e para todos os gostos. Eu gosto de fazer minhas coisas. Pesquisei e montei todo o equipamento e me sinto muito bem fazendo desta forma. Gosto de estudar e planejar do zero as minhas receitas.
Mas muita gente prefere comprar um kit de equipamentos pronto ou mesmo partir para o método BIAB, abreviatura em inglês para cerveja num saco, onde se usa apenas uma panela e um saco de tecido ou tela.
Outra boa alternativa para simplificar o processo é comprar kits de receitas prontas que reproduzam uma cerveja conhecida ou que simplesmente proponham um estilo. Você recebe todos os insumos que vai precisar na quantidade certa e já preparados.
Não quis fazer um curso, mas existem vários, inclusive virtuais e em um ou dois dias já se aprende o suficiente para fazer cerveja. Não vou dizer que não dá trabalho, mas a satisfação de tomar com os amigos a cerveja que você produziu é deliciosa!
8 – Qual o nível de investimento básico para começar a praticar?
Acho que fazer cerveja é bastante democrático, já que você pode fazer de várias maneiras diferentes, algumas delas bem baratas, mas uma que eu não recomendo é a de produzir pequenas quantidades. É um pouco frustrante, já que o tempo total de trabalho e espera não muda, e o resultado é pouca cerveja. Existem kits prontos à venda, montados por várias escolas ou fornecedores de insumos, com capacidades variadas, de 5 a 60 litros por leva, e diversas opções de equipamentos, do mais simples aos mais sofisticados, chegando a várias opções de equipamentos automatizados, que facilitam o processo, mas exigem um investimento mais elevado.
Acredito que com menos de R$ 500 em equipamentos já se consegue fazer uma boa cerveja, mas é importante pesquisar um pouco para entender se a solução escolhida é mesmo a melhor para o seu caso, depende do que se deseja com o hobby e do espaço disponível.
9 – Em que locais recomenda a compra dos produtos e/ou serviços como cursos, eventos, passeios, etc?
Para comprar insumos e equipamentos, fazer cursos e palestras, recomendo as duas lojas que conheço: Sinnatrah e Lamas, ambas têm sites com lojas, programação de cursos, eventos e muito conteúdo. Alguns canais no YouTube onde encontro degustação, cursos, receitas e técnicas.
Existem passeios temáticos e muitos bares especializados, não só em São Paulo, mas em diversas cidades que contam com marcas locais de cervejas artesanais e muitas têm bares próprios. Temos também alguns festivais nacionais, locais e pequenos eventos.
10 – Existe algum clube, grupo, etc, que pode se engajar para fazer as atividades em conjunto ?
São diversas formas de encontrar outras pessoas que curtem produzir sua própria cerveja. As lojas de insumos normalmente promovem encontros para produzir e beber cerveja, cursos, palestras e brasagens abertas
Existe um fórum e diversas paginas no Facebook voltadas aos produtores de cerveja e não é difícil encontrar quem goste de cerveja boa feita em casa.
11- Quais são as referências que vc tem de micro cervejarias que cresceram e hoje são um bom negócio para os empreendedores?
Muitas das boas marcas de cerveja surgidas nos últimos anos começaram sendo feitas em panelas, exatamente nas mesmas condições em que fazemos em casa. Acaba sendo uma escola fantástica para aperfeiçoar receitas, testar públicos e ir conhecendo o mercado.
Alguns exemplos são a Bodebrown, de Curitiba, que além de ser uma das melhores marcas de cervejas especiais, continua funcionando como uma escola e ainda vende kits para produção caseira de algumas de suas criações. Outra história curiosa é a de uma cerveja, a Petroleum, uma Russian Imperial Stout, que foi criada na panela por cervejeiros que depois fundaram a Dum, mas que é fabricada também pela Walls.
Cervejas artesanais acabam tendo uma presença mais regional e existem praticamente em todos os estados, principalmente nos estados do sul e sudeste. E a grande maioria delas surgiu de produtores de panela.
12 – Qual o risco maior neste tipo de negócio?
O mercado de cervejas artesanais no Brasil ainda é muito jovem e, apesar de crescer a quantidade e qualidade das marcas no Brasil, o número de consumidores ainda não cresceu na mesma proporção.
A legislação e os impostos ainda são muito desfavoráveis ao pequeno produtor, mas este universo ainda está sendo alterado, lentamente, mas está.
Têm surgido cada vez mais opções nas prateleiras de supermercados e bares, graças também à entrada de grandes cervejarias neste mercado (principalmente por aquisições). Muitos bares especializados estão abrindo em cidades de todos os tamanhos e vários deles ligados a alguma marca de cerveja artesanal, outros com dezenas de torneiras para cerveja fresca (em barril).
Alguns deles no formato de Brewpubs, onde a cerveja é fabricada e consumida no próprio local.
São vários formatos de negócios sendo lançados no mercado para que o tempo selecione os mais competentes.
13 – Como você faz a divulgação de seus produtos?
A ideia do nome, Mingo Cervejas Artesanais, é uma homenagem ao meu pai, o seu Domingos, pessoa muito querida entre a família e os amigos, colecionador de facas e cuteleiro amador, que conheceu e gostou das cervejas artesanais e participou das primeiras brassagens.
Como minha produção ainda é pequena, comecei divulgando para os amigos, que falaram com outros amigos e a coisa começou a ganhar corpo. Acabei de finalizar a marca e estou estudando opções de rótulos. Criei um grupo para comunicar novidades e estou criando paginas no Facebook e no Instagram, além da minha própria pagina pessoal no Facebook
Contatos do João Sposito
Celular (55) 11 98292-3836
Email: mingocervejas@gmail.com
Página no Facebook: http://www.facebook.com/mingocervejas
Links úteis:
Lojas de insumos e cursos que conheço
www.loja.lamasbrewshop.com.br/
Canais sobre produção de cerveja
www.youtube.com/cervejaeisenbahn
Canais de degustação
www.youtube.com/butecodoferreira
www.youtube.com/mestrecervejeirocom
Fórum para produtores de cerveja